O Conflito Externo é Reflexo de um Conflito
Interno?

O que o Direito Consciente nos ensina sobre os litígios que se repetem

Você já percebeu como algumas pessoas vivem envolvidas em conflitos constantes? Relações que terminam sempre da mesma forma, disputas recorrentes, dificuldades emocionais que parecem ter um padrão, tanto afetivas, familiares como profissionais?

Na advocacia tradicional, o olhar está voltado apenas ao direito em si: dissolver, dividir, regular, mas o Direito Consciente nos convida a ir além: olhar para o conflito como um sintoma e não a causa, afinal, muitas vezes, o que está em disputa no papel é apenas um reflexo de algo não resolvido internamente.

Segundo o livro "O Caibalion", baseado na sabedoria do Antigo Egito e na Grécia Helenística, o qual aborda os princípios da filosofia hermética, há leis universais que regem tudo o que existe, dentre elas, a Lei da Correspondência:

"Assim como está dentro, está fora; assim como está em cima, está embaixo."

Essa lei nos convida a enxergar o mundo externo como um reflexo daquilo que está em nosso mundo interno. Em outras palavras, os conflitos externos, inclusive os jurídicos, podem ser espelhos de dores, crenças ou padrões inconscientes que carregamos.

Em resumo, tudo aquilo que ainda não foi reconhecido dentro de nós, acaba se projetando fora: nas relações, nos vínculos, nos conflitos.

Um caso real: quando o vínculo não era possível

Recentemente, atendi um cliente que buscava a dissolução extrajudicial de uma união estável. O relacionamento havia sido marcado por traições, irresponsabilidade emocional, promessas quebradas e muita dor para ambas as partes. Era o terceiro relacionamento que ele encerrava em circunstâncias muito semelhantes.

Durante nossa escuta e análise documental, observei um dado significativo em sua certidão de nascimento: Ele nasceu em casa, e foi registrado apenas 17 anos depois, por seu pai. E mais: o nome do avô materno não constava na certidão.

Dados que, à primeira vista, podem parecer meramente formais, mas, para quem atua com consciência sistêmica, isso fala alto: Exclusão. Ausência. Falta de pertencimento.

Atraso no reconhecimento paterno e ausência da ancestralidade materna são lacunas que, no campo das relações humanas, podem gerar sentimentos profundos de abandono, desvalorização e insegurança.

E o que é repetido na vida adulta?

Relacionamentos nos quais o vínculo não se sustenta, traições que espelham lealdades inconscientes e dificuldade de confiar, de pertencer, de amar com verdade.

Esse detalhe revelou muito:

Um registro tardio pode carregar, inconscientemente, a mensagem de que “não pertenço”, “não fui reconhecido”, “não tive valor” e é esse sentimento profundo que, muitas vezes, se manifesta no presente por meio de relacionamentos instáveis, dificuldade de confiar e medo de se vincular.

Um filho que só é registrado tardiamente, que "não existe juridicamente" por anos, pode carregar sentimentos inconscientes de não pertencimento, invisibilidade ou rejeição e esses sentimentos não resolvidos se manifestam nos relacionamentos afetivos em forma de sabotagens, distanciamentos, medo de se comprometer ou necessidade de trair como forma inconsciente de reafirmar sua autonomia.

Ou seja, a dissolução da união estável foi apenas o último capítulo de uma história que começou muito antes, na infância e na origem desse ser.

O papel da advocacia humanizada: orientar com consciência

É importante esclarecer: não é função do(a) advogado(a) fazer terapia, mas um profissional que atua de forma sistêmica, consciente e humanizada pode, e deve, ter um olhar mais amplo, capaz de identificar padrões, apontar raízes e orientar o cliente de forma responsável e acolhedora.

O que fiz naquele atendimento não foi diagnosticar ou tratar, mas dar um norte, pois a origem do conflito não era apenas jurídica: era emocional, sistêmica, energética.

Orientei o cliente quanto aos trâmites da dissolução, mas também o convidei a olhar para sua história com mais profundidade, sugerindo, inclusive, que buscasse apoio terapêutico.

É claro que a busca interna só depende dele, mas o despertar de consciência pode começar com uma pergunta feita no momento certo, por um profissional que enxerga além do papel, porque quem não integra o que precisa ser visto, tende a repetir a dor com novos nomes, novos contratos e novas brigas.

A advocacia como instrumento de transformação:

Uma advocacia consciente e humanizada não substitui a terapia, mas ela ajuda o cliente a perceber que o problema jurídico é só a ponta do iceberg e com escuta qualificada, empatia e responsabilidade, podemos:

• Acolher com profundidade e ética;

• Entender a real natureza do conflito;

• Atuar juridicamente com assertividade;

• E oferecer um novo olhar sobre a própria história.

Você está passando por um conflito? Talvez ele esteja te convidando a enxergar mais do que aparenta.

Karina Dietrich

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