Como Uma Mudança de Paradigma Pode Transformar o Sistema Jurídico
Ainda que em passos lentos, uma nova advocacia está surgindo — mais humana, consciente e voltada à transformação dos vínculos.
Vivemos um momento de transição no Direito e o sistema jurídico tradicional, fundamentado na lógica, na rigidez normativa e na ideia de neutralidade, começa a dar espaço para uma abordagem mais sensível, humana e consciente. No Direito positivo, há uma tendência a ver a norma como um produto racional e técnico. Contudo, essa afirmação parte de uma visão reducionista da função do Poder Judiciário, baseada apenas na aplicação mecânica da lei.
A própria Constituição Federal de 1988 rompeu com essa lógica ao estabelecer o princípio da dignidade da pessoa humana como fundamento do Estado Democrático de Direito (art. 1º, III), além de garantir a efetivação da justiça social, da pacificação e da solução adequada dos conflitos. Afinal, toda lei carrega uma intenção legislativa — e essa intenção muitas vezes nasce de um clamor coletivo, de uma dor social que pede reconhecimento.
Dentro dessa "nova" perspectiva, surge uma reflexão profunda:
Será que o legislador atua apenas como técnico, ou como canal de algo mais profundo — uma necessidade da alma coletiva?
Carl Jung nos fala da alma coletiva como um reservatório de experiências comuns, arquétipos e padrões que se manifestam socialmente e, levando isso para o Direito, o legislador sensível e consciente capta esses sinais e transforma em norma. Ou seja, do ponto de vista sistêmico e espiritual, este pode ser visto como um canal que traduz, em forma normativa, uma necessidade invisível do inconsciente coletivo.
Um exemplo atual são as legislações que reconhecem novas formas de família, parentalidade ou gênero — elas não criam esses fenômenos, apenas dão forma jurídica a algo que já pulsa no tecido social.
Nesse sentido surge aqui, uma pergunta ainda mais profunda: “Para quem a lei está a serviço?”
Ao responder a essa questão, bebemos da fonte do filósofo grego Platão (que já havia "pegado a essência da coisa").
A ideia do autor de que — "o mundo das ideias antecede o mundo material" — expressa um dos pilares do seu pensamento filosófico: a Teoria das Ideias ou das Formas. Para ele, tudo o que existe no plano físico é apenas uma sombra imperfeita de uma realidade superior e eterna, que é o mundo das ideias.
Nesse plano ideal, existem arquétipos puros e imutáveis — como a justiça, a beleza, o amor — dos quais todas as coisas materiais são apenas cópias ou manifestações (isso inclui nós também). Assim, antes de algo se concretizar no mundo sensível (físico), ele já “existe” no campo das ideias (outra dimensão), como uma matriz invisível que molda a realidade.
Essa visão influencia até hoje diversas áreas do saber, inclusive abordagens contemporâneas como o Direito Sistêmico, a física quântica e os estudos da consciência, que também reconhecem a existência de um plano sutil anterior à manifestação material. Unir essas visões é lembrar que a Justiça não nasce apenas dos códigos, mas do invisível, do que pulsa antes do pensamento.
E é perfeitamente visível essa teoria dentro do Direito. Vejamos um exemplo:
Quando a intenção do legislador é restaurar, proteger e equilibrar — a norma nasce com força criadora e harmonizadora. Já quando a intenção é repressiva, vingativa ou movida pelo medo, a norma pode aprofundar a exclusão e o desequilíbrio.
Portanto, quando o Direito "conversa" com outras áreas (e isso tende a evoluir), como a física quântica, percebe-se que o mundo é um campo de infinitas possibilidades, influenciado pela intenção e pela observação (pensou criou), seja do legislador, do advogado, do cliente, de qualquer pessoa.
Para melhor compreensão, abaixo segue um quadro comparativo do paradigma tradicional do Direito com o paradigma Sistêmico-Consciente:
Paradigma Tradicional | Paradigma Sistêmico-Consciente |
---|---|
Norma como comando técnico | Norma como expressão de consciência |
Foco na punição | Foco na restauração e reconexão |
Litígio como regra | Autocomposição como caminho |
Jurista como técnico neutro | Jurista como facilitador consciente |
E o que isso quer dizer? Que o novo Direito já está acontecendo e cada vez mais advogados, juízes, mediadores e profissionais do sistema judiciário estão buscando ferramentas que integrem o jurídico ao humano. Termos como: direito sistêmico, justiça restaurativa, Constelações nas Varas de Família, advocacia consciente, já estão sendo estudados e aplicados, mesmo que indiretamente, em diferentes regiões do Brasil e do mundo.
Um exemplo desse olhar mais humanizado do Direito é o que ocorreu recentemente no Senado Federal, onde a Comissão de Direitos Humanos (CDH) rejeitou uma sugestão legislativa para proibir o uso da constelação familiar por instituições públicas, como o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Poder Judiciário, ocasião em que a presidente da Comissão manifestou apoio à prática no Judiciário. Segundo a senadora, há critérios bem definidos para a escolha dos facilitadores, e os resultados têm sido positivos:
“Existe todo um critério para escolher quem vai conduzir a constelação familiar. Conforme pesquisas publicadas, tem dado certo. Famílias estão sendo resgatadas, especialmente para os dependentes químicos.” — Fonte: Agência Senado
Portanto, não se trata de espiritualizar o Judiciário de forma dogmática, pois a espiritualidade em si não se refere à religião, mas de trazer à tona a consciência e o reconhecimento de que o Direito é feito por seres humanos, para seres humanos.
Onde há humanidade, há alma, há campo energético, há vínculos — e o legislador que ouve a dor coletiva e legisla com intenção clara e propósito elevado, atua como um verdadeiro canal da alma social. E assim, cada nova lei pode não apenas organizar a sociedade — mas também transformá-la.
E, abrindo esse portal de conhecimento técnico com espiritualidade, segue abaixo o que será abordado neste blog:
- Reflexões sobre advocacia consciente
- Práticas de autocuidado emocional e energético
- Orientações sobre temas do Direito com propósito
- Conexões entre Direito e espiritualidade
- Temas sobre o Direito em geral
Este blog surge como complemento e direcionamento para uma abertura de consciência em relação ao que existe por trás de um litígio, afinal, neste espaço, o Direito tem coração. Tem alma. Tem consciência.
Sejam bem-vindos ao novo.✨
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